Um viva àquelas que abriram caminho!
O artigo da Folha de São Paulo, comparando o comportamento de Gal Costa ao de Anitta, gerou um bom debate interno no grupo de colunistas aqui do Making Of. Alguns colegas acharam injusto com Anitta ou nada a ver juntar as duas. Entendi que “Gal Costa foi ainda mais revolucionária que Anitta”, o autor quis contextualizar o atrevimento da cantora baiana em 1971, auge da ditadura militar, quando Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam no exílio. Nesse ano ela lançou o álbum Fa-tal e o ousado show A todo vapor, desafiando o clima repressor da época. O artigo destaca o quanto as coisas eram mais difíceis que hoje. Gal, que nos deixou esta semana, costumava receber críticas e ofensas da família tradicional brasileira por sua postura “despudorada”. A capa do álbum “Índia”, de 1973, gerou outro escândalo e foi proibida pela Censura. A aura de puritanismo e a paranóia política ditavam os costumes.
Achei a abordagem importante porque as mulheres jovens podem não compreender o papel daquelas que as antecederam e a importância do movimento feminista nos anos 60/70 para as novas gerações. Já virou clichê, mas, sim, somos um país sem memória. Um dia mencionei em rede social a primeira vez que me animei a tomar cafezinho em pé no balcão de uma cafeteria no centro da cidade. Aquele sempre fora um reduto masculino e, até nesse pequeno gesto, queríamos conquistar espaço. Algumas garotas debocharam do comentário. Entendi o abismo temporal e comportamental entre uma geração e outra.
Elas talvez não param para pensar que as mulheres só tiveram direito ao voto no Brasil em 1931. Mesmo assim, o presidente Getúlio Vargas autorizou que somente solteiras, viúvas com renda própria ou casadas com a autorização do marido podiam votar. Esse avanço, mesmo imperfeito, não teria acontecido sem o movimento sufragista, sem que ativistas fossem às ruas exigir seus direitos.
Voltando ao artigo da Folha, Anitta tem seus méritos como artista provocadora, dona de seu corpo, e também gestora eficiente da própria carreira. Ela não depende da figura masculina para dizer-lhe o que fazer ou como deve agir. Sem querer diminuir esse valor, acho importante que a gente lembre sempre de quem pavimentou o caminho para as Anittas de hoje, como fizeram Gal, Leila, Dandara, Pagú, Tarsila, Chiquinha e Anita, a outra, por exemplo. E, se me permitem, citar a frase de um homem para encerrar essas reflexões tão femininas, inspiradas pelos meus queridos colegas do Portal: É necessário conhecer o ado para compreender o presente e modificar o futuro”. [Karl Marx, filósofo].
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