Os eventos climáticos extremos de 2024 destacaram, mais uma vez, a vulnerabilidade de Santa Catarina diante das mudanças climáticas e da ineficiência na gestão de desastres naturais. Apesar de reiterados anúncios de “investimentos históricos”, o estado ainda enfrenta 100% de atraso nas obras de mitigação de enchentes, conforme dados da FIESC e do Relatório das Águas de 2024. Essa situação expõe milhões de pessoas e o setor produtivo a riscos evitáveis, enquanto o custo humano e econômico se torna cada vez mais insustentável.
Santa Catarina ocupa apenas 1% do território nacional, mas é o 6º estado brasileiro em perdas econômicas causadas por desastres naturais. Dados da FIESC indicam que, entre 1991 e 2022, o estado acumulou mais de R$ 32,5 bilhões em prejuízos econômicos, com enxurradas e inundações representando 92% desses danos. Os números não deixam dúvidas: os desastres climáticos não são exceções, mas uma constante que requer uma resposta à altura.
Um ano de tragédias e obras paradas
Em 2024, as chuvas intensas no Vale do Itajaí e em outras regiões desalojaram milhares de catarinenses, causaram prejuízos bilionários e interromperam atividades produtivas essenciais. Barragens como as de Botuverá e José Boiteux, cruciais para a contenção de enchentes, permanecem sem funcionalidade plena. Cidades como Blumenau, ville e Chapecó aguardam sistemas de drenagem urbana que continuam no papel.
Embora o governo estadual tenha anunciado R$ 342 milhões em investimentos para infraestrutura hídrica, esse montante cobre apenas uma fração das necessidades reais. Nenhuma das obras estruturais prioritárias foi concluída, e os atrasos continuam agravando os impactos econômicos e sociais.
- Rodovias estratégicas comprometidas: a BR-280 sofreu 18 deslizamentos em quatro meses, prejudicando o transporte de bens e elevando custos logísticos.
- Infraestrutura portuária impactada: paralisações no Complexo de Itajaí afetaram o comércio exterior, aumentando os prejuízos para o setor produtivo.
O custo da falta de ação
Conforme o Atlas Digital de Desastres no Brasil, o país acumulou R$ 478 bilhões em prejuízos econômicos devido a desastres naturais nos últimos 32 anos. Em Santa Catarina, o impacto em 2024 incluiu:
- Deslocamentos em massa: milhares de famílias perderam suas casas, intensificando a sensação de abandono entre os mais vulneráveis.
- Agricultura prejudicada: setores-chave, como agropecuária, sofreram perdas significativas devido à interrupção de logística e danos às plantações.
Enquanto isso, a narrativa de “investimentos históricos” se desfaz na primeira enchente. A cada anúncio vazio, cresce o risco de novos desastres superarem tragédias anteriores.
O que precisa ser feito
Santa Catarina precisa urgentemente substituir promessas e discursos por ações concretas e eficazes. As seguintes medidas são indispensáveis para reverter a situação:
- Priorizar obras paralisadas: concluir barragens e sistemas de drenagem, estabelecendo prazos rigorosos e garantindo fiscalização independente.
- Ampliar investimentos: buscar parcerias federais e internacionais para financiar projetos de infraestrutura hídrica de longo prazo.
- Implementar Soluções Sustentáveis: Promover reflorestamento, drenagem urbana eficiente e contenção natural de águas pluviais.
- Fomentar parcerias multissetoriais: alinhar esforços entre governos estadual e municipal, setor privado e sociedade civil para criar uma rede eficaz de prevenção.
O tempo está se esgotando
A retrospectiva de 2024 deixa claro que Santa Catarina não pode mais operar no atraso e na improvisação. O estado, que já é reconhecido como um dos mais produtivos do Brasil, arrisca comprometer seu papel estratégico caso não implemente mudanças reais. Quando as águas invadem as cidades catarinenses, elas levam não apenas bens materiais, mas também a confiança na gestão pública.
Se a inércia persistir, o custo humano e econômico será inável. O momento de agir é agora. Não há espaço para mais atrasos ou narrativas vazias. Apenas com ações concretas e coordenadas será possível proteger a população e garantir que o estado não continue a pagar o preço da inação.