O milagre, o avião da Pepsi e ligações bem perigosas
Destaque: O Milagre (The Wonder) – direção: Sebastián Lelio -2022
Não resisto ao trocadilho de que milagre mesmo é encontrar um filme tão bom como este na Netflix! O drama-suspense dirigido pelo chileno Sebastián Lelio sai do lugar comum ao adaptar o romance de Emma Donoghue sobre fanatismo religioso. De quebra, traz uma interpretação digna de Oscar da atriz britânica Florence Pugh. Ela é Lib Wright, a enfermeira chamada a um pequeno vilarejo irlandês para monitorar Anna, de onze anos, que supostamente vive sem comer há meses. A comunidade, religiosa e conservadora, acredita que isso é fruto de um milagre e a a visitar a casa. Caberá a Lib e a uma freira, chamada pelo mesmo motivo, dizer se é verdade que a menina não se alimenta escondido. O pedido foi feito pelo Conselho local que reúne padre, médico e comerciantes, cada um com suas próprias crenças e interesses. O elenco escolhido para os conselheiros traz nomes conhecidos como os dos irlandeses Ciarán Hinds e Brian F. O´Byrne . Tom Burke, um ator de quem gosto muito, interpreta o jornalista que, assim como Lib, carrega um drama na vida. É nele que a enfermeira busca apoio quando toma uma decisão radical. A história não é totalmente verdadeira, mas inspira-se no caso das “garotas em jejum”, ocorrido no século 19.
Sebastián Lelio foi descoberto pelo mundo quando dirigiu “Uma mulher fantástica”, ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018. Aposto minhas fichas que, a partir de “O Milagre”, vai virar o novo queridinho da indústria cinematográfica de Hollywood.
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BELFAST – direção: Kenneth Branagh – 2021 – Telecine

Por falar em filme bom, Belfast já esteve aqui na coluna, mas agora ele entrou no acervo “gratuito”. A história de uma família protestante acontece durante os tumultos religiosos e sociais dos anos 1960, na Irlanda do Norte, e é contada pelo olhar de Buddy , o filho de nove anos. Cercado de amor e sonhos, Buddy vai viver a dor da perda também. Kenneth Branagh dirigiu e roteirizou o filme que conta muito de sua própria infância. “Belfast” foi indicado ao Oscar em sete categorias e acabou levando a estatueta pelo Melhor Roteiro Original. O elenco é ótimo: Judi Dench, Caitriona Balf, Ciarán Hinds e o adorável ator mirim, Judi Hill.
PEPSI, CADÊ MEU AVIÃO? – 04 episódios – 2022 – Netflix

Outra surpresa agradável na Netflix é essa série documental sobre um tema, no mínimo curioso. Durante a “guerra” de mercado entre os refrigerantes cola, a Pepsi revolucionou a publicidade tentando superar a Coca-Cola. Em 1996, seus inspirados criadores cometeram um erro, ao lançar um programa de pontos, onde o consumidor podia ganhar desde uma latinha até uma jaqueta. No anúncio, um ator descia de um jato militar Harrier e dizia que sete milhões de pontos dariam direito à aeronave. Era uma “piada”, afirmou a Pepsi quando um jovem de vinte anos resolve reivindicar o jato a que tem direito , depois de conseguir levantar os pontos com a ajuda de um investidor meio maluco. Trava-se aí uma batalha judicial entre David e Golias, com perdão pelo clichê.
Mesmo quem não é fã de documentários vai gostar dessa minissérie pelo ritmo e suspense. O rapaz vai conseguir seu jato? É permitido por lei a um civil ter um Harrier etc… ? Como enfrentar um gigante como a Pepsi e seu poderoso corpo jurídico ?
EU SOU VANESSA GUILLEN – 04 episódios – 2022 – Netflix

Outra minissérie documental, mas com um tema seríssimo. Sempre se ouviu falar dos casos de assédio dentro das bases militares americanas, mas no caso de Vanessa Guillen, o final foi trágico. Quando ela desaparece dentro da base , a mãe e suas duas irmãs não descansam em busca da verdade e justiça para a jovem soldado.
LIGAÇÕES PERIGOSAS – 08 episódios – Lionsgate (ex-Starzplay)

O romance Les Liaisons Dangereuses, de Chordelos de Laclos , está fazendo 240 anos e continua inspirando adaptações cinematográficas. Essa versão seriada não traz exatamente a mesma história dos ótimos filmes de Milos Forman e Stephen Frears ( o meu favorito). Ela é o que os produtores chamam de prelúdio, a juventude da Marquesa de Merteiul e do Visconde de Valmont. Escrita por uma mulher, Harriet Warner, o roteiro modernizou a trama e foca nas condições de subserviência das mulheres do século XVIII e na transformação da jovem prostituta em alguém com poder no mundo masculino. Vemos também atores negros em papéis de personagens que seriam brancos, seguindo a onda de “Bridgerton”. A produção é ótima, reconstituição de época idem, mas não gostei da escolha do ator que faz o Valmont, personagem importantíssimo.
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