Não lembro exatamente em que ano aconteceu, mas a história ficou na minha memória para sempre. Eu coordenava o Núcleo de Atendimento à Globo, na RBS TV SC, quando o Fantástico pediu-me para providenciar uma equipe para Glória Maria. Ela vinha para entrevistar o modelo e ator, Paulo Zulu, em sua Pousada na praia da Guarda do Embaú.
No dia marcado, Glória me liga do hotel onde estava hospedada, avisando que iniciara um tratamento de canal na véspera e amanhecera com o rosto inchado. Tinha tomado uma medicação depois de falar com a dentista por telefone e ia postergar o horário da entrevista para ver se o inchaço diminuía.
Algumas horas depois ela telefona e pergunta se posso ir até o hotel olhar o rosto dela e ajudá-la a decidir se era possível gravar assim mesmo. Explicou que não podia esperar muito. Precisava voltar ao Rio e editar a matéria até o dia seguinte. Fui pensando que devia ser pouca coisa, mais vaidade de repórter. Chegando lá, vi que não era bem assim. Não escondi meu espanto ao ver o quanto o lado direito do rosto famoso estava disforme. Opinei que o inchaço era muito visível e sugeri que ela remarcasse a entrevista para outro dia. Glória riu e me disse que era praga do namorado dela porque saiu avisando que iria entrevistar um dos homens mais bonitos do Brasil. irei como, mesmo naquela situação, ela manteve o bom humor. Ligou para Paulo Zulu na minha frente e explicou a situação, ainda indecisa.
Ela me agradeceu por ter ido até o hotel e nos despedimos ainda rindo da “praga”, mas ela confessou que estava chateada porque jamais voltara para a Redação sem a matéria que saíra para fazer.
Chegando de volta à TV, já pensando em cancelar carro e equipe, Glória me liga: decidi que vou fazer a matéria assim mesmo, gravando de forma que não apareça o inchaço! Despachei a equipe para buscá-la no hotel, rumo à Guarda do Embaú.
No domingo eu estava curiosa para ver o resultado da entrevista, claro. E lá estava Glória Maria, alegre e falante, escalando um morro com o Zulu, mostrando apenas um pedacinho de rosto, como se estivesse tudo normal. Não tive chance de falar para ela que tinha sido uma lição de profissionalismo, mas provavelmente ela me olharia com ar de quem não sabia o porquê de minha iração. Para Glória era uma coisa natural, nada demais. Talvez uma frase dela explique melhor: O jornalismo para mim é uma paixão. Nunca senti aquilo realmente como um trabalho!