Portal Making Of

Endividados, pressionados por boletos e comprando menos: metade das casas brasileiras está inadimplente

Foto: Reprodução/Freepik

A inflação que escapa dos índices oficiais, o dinheiro que já não fecha o mês e uma rotina de renúncias: esse é o cenário econômico vivido pelos brasileiros em 2025, de acordo com a nova edição da pesquisa “O Bolso do Brasileiro”, da Hibou. O levantamento traça um retrato detalhado de como o consumo está se redesenhando em meio ao aperto financeiro — com alta no endividamento, cortes no carrinho de compras, trocas de marcas, contas em atraso e escolhas difíceis no dia a dia. Os dados revelam um consumidor pressionado que segue se adaptando para sobreviver à escalada do custo de vida.

 

A inflação oficial não convence o brasileiro

A percepção da inflação é um dos principais destaques da pesquisa: 78% dos brasileiros acreditam que os preços subiram mais do que os índices divulgados pelo governo. Apenas 20% dizem sentir a inflação no mesmo ritmo da oficial, e apenas 2% acreditam que os preços subiram menos. Isso escancara o descomo entre a realidade sentida na rotina e os números macroeconômicos.

“A inflação real, para o consumidor, não está nos relatórios — está no carrinho do supermercado e nos boletos acumulados. A perda de poder de compra é o que define o humor da economia popular”, afirma Lígia Mello, CSO da Hibou.

 

Cartão de crédito sustenta o consumo, mas amplia o rombo

A dificuldade em manter as contas básicas tem levado muitos brasileiros ao crédito rotativo. 33% relatam que os gastos no cartão aumentaram no primeiro trimestre de 2025. Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento do endividamento: 21% dizem estar mais endividados do que no início do ano, enquanto 35% seguem no mesmo nível. Apenas 16% conseguiram reduzir suas dívidas, e 28% afirmam não estar endividados.

Além disso, um dos dados mais alarmantes: 49% dos lares brasileiros têm alguma conta em atraso. As mais comuns são o próprio cartão de crédito (56%), seguidas por contas de luz e água (28%), boletos em atraso (26%), empréstimos (21%), cheque especial (18%), impostos como IPTU (13%) e IPVA (11%), e até aluguel (2%).

 

Renda estagnada e novos bicos para compensar

O retrato de 2025 até aqui mostra que 32% dos brasileiros tiveram nova redução de renda neste ano, e 30% afirmam que tudo segue igual — sem piora, mas também sem melhora. Para 12%, alguém em casa perdeu o emprego no último ano. Outras estratégias para complementar a renda surgem: 11% dizem que alguém de casa ou a fazer bicos, 4% voltaram ao regime CLT, e apenas 7% conseguiram de fato aumentar a renda familiar. Uma minoria, 2%, diz ter mudado de casa para economizar no aluguel e 2% fechou o próprio negócio no último ano.

 

Sacrifícios no carrinho e escolhas mais duras na rotina

Frente a essa combinação de inflação percebida e renda travada, o consumidor tem feito cortes profundos no dia a dia. 52% deixaram de colocar alguns itens no carrinho, 48% diminuíram quantidades ou volumes comprados, e 44% trocaram marcas ou cortes por opções mais baratas. O impacto chega até aos serviços: 35% deixaram de ir ao salão de beleza ou manicure, 21% cancelaram s de streaming ou revistas , 11% venderam objetos usados para levantar dinheiro, e 9% reduziram a frequência de faxineira ou diarista. Em casos extremos, 1% mudou os filhos de escola por causa das finanças.

“O que mais assusta nestes números é que desde 2021 o brasileiro vem  reduzindo ou mudando seu carrinho de compras para caber no dinheiro do mês, porém o movimento agora é muito maior. É um eterno ajuste, mas que está comprometendo radicalmente a qualidade de vida do brasileiro. Hoje, a população come muito menos nutrientes do que nos anos anteriores, porque tudo está mais caro,  e isso é alarmante”, afirma Ligia Mello

 

Carne, combustível e remédios são os que mais pesam no bolso

A pesquisa também revelou quais itens da rotina doméstica mais pressionam o orçamento dos brasileiros. Carne lidera com 43% das menções, seguida por combustível (32%), medicamentos (30%), café e similares (27%), e plano de saúde (25%). Itens básicos como cesta básica (19%), ovos (16%), frutas (13%), legumes (10%), laticínios e grãos (8%) também estão na lista, o que reforça que o impacto atinge a base da alimentação e dos cuidados pessoais dos brasileiros.

 

Consumidor mais atento

Diante da necessidade, a forma de comprar também mudou. 92% dos entrevistados comparam preços antes de fechar uma compra, e 37% fracionam suas compras ao longo do mês em diferentes mercados, justamente para aproveitar as melhores ofertas. Outros 26% dividem as compras em dois supermercados diferentes, e 30% preferem um único local, mas ficam atentos às marcas com melhor custo-benefício. O hábito de fidelidade à marca ou à loja deu lugar à estratégia pura.

“O consumidor por necessidade está mais estratégico, analítico e atento, e consequentemente também mais exausto. A criatividade frente ao desafio econômico tem sido essencial para contornar os desafios econômicos, e isso reflete em todos os aspectos do consumo no país”, conclui Lígia Mello, da Hibou.

 

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Morre Zagallo

O único tetracampeão mundial de futebol, Mário Jorge Lobo Zagallo, morreu ontem, 5, no Rio de Janeiro, aos 92 anos de idade. Ele estava internado

Leia mais

Uma primeira semana da pesada!

O noticiário regional da primeira semana do ano novo foi dominado pela nomeação do filho do governador, Filipe Melo, para secretário do estado da Casa