O pessimismo atual sobre a política econômica pode ser considerado míope e exagerado, mas é preciso observar a conjuntura com uma lente política que, desde as últimas eleições, tem dividido o país e influenciado as expectativas econômicas. Não estão em jogo apenas o déficit fiscal, a inflação ou o câmbio, mas também o cenário político até 2026.
Na economia real — crescimento do PIB, geração de emprego, reforma tributária e o pacote fiscal proposto — há avanços que pesquisas recentes apontam como favoráveis para a continuidade de Lula ou de seu sucessor. No entanto, o mercado tem amplificado preocupações com o déficit fiscal, enquanto a política monetária do Banco Central, com taxas de juros elevadas, agrava o custo da dívida pública e retroalimenta esse pessimismo.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta um crescimento do PIB superior às estimativas oficiais, refletindo o bom desempenho da indústria e da economia real. O grande desafio será transformar essas conquistas em narrativa política e obter força para enfrentar interesses que priorizam a oposição ao governo em detrimento dos resultados concretos que começam a surgir.
O último Boletim Focus, divulgado em 13 de dezembro de 2024, revela mudanças significativas nas projeções econômicas para os próximos anos. A inflação (IPCA) foi revisada para 4,89% em 2024 e 4,60% em 2025, enquanto o PIB aponta crescimento de 3,42% para 2024 e 2,01% para 2025, indicando uma expansão moderada. O câmbio deve alcançar R$ 5,99 em 2024 e R$ 5,85 em 2025, sinalizando desvalorização do real, com impacto no custo de importações e competitividade das exportações. Já a Selic segue em alta, com previsão de 14% para 2025, reforçando uma política monetária restritiva. Esses indicadores refletem um cenário desafiador, exigindo coordenação fiscal e monetária para equilibrar crescimento econômico e controle da inflação.
Qual a posição do setor produtivo diante do pessimismo do mercado?
Enquanto o mercado financeiro amplia expectativas negativas sobre a economia brasileira, o setor produtivo mantém uma postura de aparente apatia, mesmo diante de indicadores que apontam uma realidade mais positiva em 2024. Com o PIB projetado para crescer 3,5% em 2024 e 2,4% em 2025, inflação próxima da meta (4,2%) e o avanço da indústria pelo segundo ano consecutivo, a economia real demonstra resiliência.
O alarmismo midiático e a política monetária conservadora do Banco Central, com a Selic ainda elevada (projetada em 12,75% para 2025), têm impactado o setor produtivo ao encarecer investimentos e desestimular o consumo interno. A falta de posicionamento das lideranças industriais diante dessa desconexão entre as narrativas do mercado financeiro e os dados da economia real pode agravar um ciclo de desconfiança, prejudicando o crescimento econômico.
Um diálogo mais assertivo por parte do setor produtivo é essencial para alinhar expectativas e reforçar a confiança na economia brasileira. A articulação entre líderes empresariais, governo e mercado financeiro será crucial para criar um ambiente mais favorável ao investimento e ao consumo.