Apesar de haver sido cobrada por não o manifesto contra o genocídio em Gaza , a presidente do 78º Festival de Cinema de Cannes, Juliette Binoche, encerrou o evento com um discurso bem contundente. Emocionada com a vitória do filme iraniano “ A simple accident”, de Jafar Panahi, a atriz sa declarou que “ a arte sempre vai vencer, o que é humano sempre vai vencer”. “Nossa necessidade criativa pode transformar o mundo, pode transformar situações impossíveis de serem vividas. Continuamos a inspirar o mundo, espero, e a falar das pessoas que não podem falar por si”, desabafou Juliette.
Em 2010, Panahi foi condenado pelo governo de seu país a seis anos de prisão e proibido de realizar filmes, viajar ou conceder entrevistas por um período de vinte anos. Apesar disso, ele produziu parte de sua obra de maneira independente, fora dos circuitos oficiais do Irã e agora conquistou o prêmio máximo no maior festival de cinema do mundo. De certa forma, sua vitória foi um ciclo que se fechou já que – em 2010 – ao receber o prêmio de melhor atriz por “Cópia Fiel”, do iraniano Abbas Kiarostami, a própria Binoche segurava um cartaz com o nome de Panahi, pedindo sua libertação e afirmando que “seu único crime era a de ser um artista independente”. Seu gesto foi considerado decisivo para a libertação sob fiança de Jafar Panahi. É claro que esses precedentes trouxeram à baila a questão: “mérito do filme ou gesto político”? A presidente do júri reconheceu que havia uma simbologia na escolha de “A simple accident”, mas destacou a qualidade técnica do longa iraniano.
Seja como for, os festivais de cinema são em si um lugar de idéias, debates, manifestações e a confirmação de que a arte é capaz de transformar a realidade. A verdadeira arte não ite neutralidade ou ainda, como canta nosso Milton Nascimento: todo artista deve ir aonde o povo está.
Os filmes que aram por Cannes este ano demonstraram o olhar atento do cinema ao mundo e seus problemas e a necessidade de manter viva a memória do que não deve se repetir ou avançar. A diversidade de nacionalidades e temas fortes na mostra principal, sem falar nas competições paralelas, demonstraram essa riqueza.
Palma de Ouro: “It was Just An Accident”, de Jafar Panahi (Israel)
Grande Prix: “Sentimental Value”, de Joachim Trier (Noruega)
Prêmio do Júri: “Sirât”, de Oliver Laxe (Espanha/França), empatado com “Sound of Falling”, de Mascha Schilinski (Alemanha)
Prêmio Especial do Júri: “Resurrection”, de Bi Gan (China)
Agora é aguardar que essas maravilhas cheguem aos cinemas brasileiros e/ou ao streaming. (Na foto, cena de “A simple accident”, vencedor da Palma de Ouro)
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Todo mundo já sabe, mas é tão bom que não custa repetir: o cinema brasileiro fez história em Cannes ao ganhar o prêmio de Melhor Direção para Kleber Mendonça F° e Melhor Ator para Wagner Moura pelo filme “O Agente Secreto”. Desde Glauber Rocha, por “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, em 1968, um diretor brasileiro não vencia Cannes.
O longa de Kleber ganhou também o Prêmio da Crítica e o prêmio “Art et Essai”, dos exibidores independentes da França, o que garante um bom mercado internacional para a produção.
A sinopse oficial: Em 1977, Marcelo (Wagner Moura) trabalha como professor especializado em tecnologia. Ele decide fugir de seu ado violento e misterioso se mudando de São Paulo para Recife com a intenção de recomeçar sua vida. Marcelo chega na capital pernambucana em plena semana do Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, ele começa a ser espionado pelos vizinhos. Inesperadamente, a cidade que ele acreditou que o acolheria ficou longe de ser o seu refúgio.
Ainda não há uma data definida para lançamento no Brasil, mas “O Agente Secreto” deve estrear aqui no segundo semestre.
Filmes de Kleber Mendonça disponíveis nas plataformas:
O diretor pernambucano não é novato em Cannes, ele já teve quatro filmes selecionados pelo Festival e recebeu prêmios por “Bacurau” e “O Agente Secreto”. Os outros dois indicados foram “Aquarius” e “Retratos Fantasmas”. Todos, exceto o mais recente estão disponíveis em streaming.
Aquarius (2016)
Sônia Braga interpreta Clara, uma escritora e jornalista aposentada, que é a última moradora de um antigo edifício à beira mar em Recife. Ela começa a enfrentar as investidas hostis de uma construtora que pretende demolir o seu prédio e dar lugar a um novo empreendimento.
Disponível pela da Netflix, s da Globoplay e da Prime Video e sob aluguel na Apple TV+, Google Play Filmes e YouTube.
Bacurau (2019)
O longa mostra como a vida de um povoado no sertão brasileiro é abalada por estranhos acontecimentos após a morte da matriarca dona Carmelita. Sob ameaça de um inimigo desconhecido, os moradores do lugar superam as diferenças e se unem para lutar por sua sobrevivência. “Bacurau” teve a co-direção de Juliano Dornelles.
O filme, que foi vencedor do prêmio do Júri na edição de 2019 do Festival de Cannes. Está disponível para s da Globoplay e Prime Video e, também, pode ser alugado na Apple TV+, Google Play Filmes e Youtube.
Retratos Fantasmas (2023)
Esse belo documentário reúne imagens de arquivo, fotografias e registros em movimento e explora a história e a memória do centro de Recife a partir do fim das salas de cinema de rua. O título foi incluído na lista de melhores filmes do ano feita pelos críticos do jornal The New York Times.
Está disponível pela da Netflix ou para compra e aluguel pelas plataformas Apple TV+, Prime Video e YouTube.
O Som ao Redor ( 2013)
Nessa mistura de drama e suspense, a rotina tranquila dos moradores de um bairro de classe média em Recife é interrompida quando uma empresa de segurança particular chega ao local. Em meio às mudanças trazidas pela nova vigilância, Bia tenta encontrar uma forma de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho.
O filme está disponível para s da Netflix e do Telecine.
Obs.: KMF possui também vários curtas-metragens em streaming.
O que tem de novidades para ver no cinema?
Já que estamos em clima de cinema brasileiro, a primeira sugestão é o filme que conquistou mais de vinte prêmios em festivais internacionais , incluindo o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza.
Manas – direção: Mariana Brennand – 2024
Rodado na região amazônica, esse é o primeiro longa-metragem de ficção da diretora. A trama é inspirada nas histórias reais da Ilha do Marajó e acompanha uma garota de treze anos que decide confrontar a engrenagem violenta que rege sua família e as mulheres da comunidade. No elenco estão por Jamilli Correa, Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga. (Veja o trailer)
Entre dois mundos – direção: Emmanuel Carrére – 2025
Falamos nela acima: esse filme é protagonizado pela ótima Juliette Binoche. Sinopse: Binoche vive uma renomada escritora sa chamada Marianne Winckler que decide se infiltrar por seis meses no mundo do trabalho precarizado com a intenção de registrar e investigar as condições da classe trabalhadora no norte da França. Ela consegue um emprego de faxineira numa balsa que atravessa o Canal da Mancha. Nessa vida dupla, a autora a tempo ao lado de mulheres que alternam entre empregos instáveis e períodos de desemprego, formando laços e conhecendo a realidade limitada financeiramente e de poucas oportunidades de cada uma. Seu dilema: manter a mentira ou escrever sobre essas pessoas? (Veja o trailer)
*Os dois filmes estão em cartaz no Cine Paradigma – SC-401- Florianópolis
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THE END