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A despedida de Fernanda Montenegro, a Grande

Fotos: Reprodução

Eu poderia ter colocado apenas o nome dela no título e já bastaria, mas se alguém merece o epíteto de “a grande” essa pessoa é Fernanda Montenegro. Nascida Arlette Pinheiro, tinha 16 anos quando iniciou sua carreira na Rádio MEC, apresentando um programa literário que adaptava contos e novelas. Como Arlette era um nome muito comum para uma atriz, decidiu adotar um pseudônimo “a la século XIX; havia no Rio de Janeiro uma famosa prostituta chamada Fernanda”, conta ela no documentário em sua homenagem na Globoplay. Já Montenegro foi inspirado em um médico da família.

“Esse nome não existia, precisava ser inventado”, conta Fernanda. Eu acrescento que ela também precisaria ser inventada se não existisse alguém assim na dramaturgia brasileira. Múltipla, Fernanda fez rádio, teatro, televisão e cinema, sem nunca esconder sua preferência pelos palcos, onde subiu para atuar em mais de cinquenta peças. Tive o privilégio de vê-la em “ Dona Doida” (1987), baseada na obra de Adélia Prado, “The Flash and the crash Days” (1993), ao lado da filha, Fernanda Torres e creio (a memória me falha) “As lágrimas amargas de Petra Van Kant” (1982).

Na televisão,  ela fez cerca de quinze trabalhos, entre novelas e minisséries. Quem nunca viu a icônica cena, meio improvisada, de “Guerra dos Sexos” onde ela e o fabuloso Paulo Autran brigam e se jogam coisas no café da manhã ? Atriz versátil, ela sempre eou por todos os gêneros, da comédia ao drama mais intenso.

No cinema, foram cerca de vinte filmes, começando por “A Falecida” (1964), de Nelson Rodrigues, dirigida por Leon Hirszman, ando por grandes sucessos como “Eles não usam Black Tie”( 1980), também de Hirszman e, claro, “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, que deu a Fernanda a primeira indicação de uma atriz latino-americana ao Oscar de Melhor Atriz.

E não tem como falar em Oscar sem mencionar que ela é mãe de Fernanda Torres, a segunda atriz brasileira a ser indicada ao famoso prêmio. Graças a sua filha – com o também ator Fernando Torres, com quem foi casada durante cinquenta e cinco anos – ela virou Fernandona para os íntimos, ou seja, para todos nós que amamos seu trabalho e nos orgulhamos de ter uma atriz desse quilate no Brasil. Dona de uma vida pessoal discreta, nunca se soube de nenhum romance depois de ficar viúva em 2008. Com Fernando teve também o filho primogênito  Cláudio Torres, cineasta, roteirista e produtor.

Agora, aos 95 anos de vida e sessenta de carreira, Fernanda M. aproveita o lançamento de “Vitória”, dirigido pelo genro Andrucha Waddington , para anunciar sua aposentadoria do cinema. O filme, baseado no caso de Joana da Paz, a aposentada que denunciou uma quadrilha de traficantes e policiais corruptos, filmando-os na janela de seu apartamento no Rio de Janeiro, levantou a polêmica de Fernanda ter sido escolhida para interpretar uma personagem negra na vida real.  Isso não impediu que “Vitória” seja a maior estreia de um filme nacional em 2025, tendo arrecadado R$ 4,7 milhões com um público de 218 mil pessoas entre quinta-feira (13) e domingo (16), segundo dados de Comscore e Filme B.

Mas, calma, que ainda  vamos poder ter mais um pouquinho da Fernandona nas telas . Seu próximo – e derradeiro filme – será a comédia “Velhos Vendidos”, dirigida pelo filho, Cláudio Torres, com lançamento previsto para este ano.

E aí, ela não vai atuar nunca mais ? Fernanda explica que fazer cinema exige esforço físico e fôlego por isso vai parar, mas pretende continuar fazendo leituras em palcos, uma coisa de que sempre gostou.

É chegada a  hora da nossa diva diminuir o ritmo de trabalho. Fernanda vai completar 96 anos em outubro e vem falando sobre ter noção da finitude da vida, como em uma entrevista ao jornal El País, em 2021:

Tudo já é uma espécie de despedida para mim. Uma hora acaba. (…)Sentirei saudade. Gostaria de levar comigo a minha memória. Eu tive um desmaio  durante uma gravação no Sul do país. Eu demorei para acordar novamente. Mas, quando voltei, senti uma paz absoluta que contrastava com todo aquele alvoroço ao meu redor. Neste retorno, havia um hiato. Eu não lembrava do ado e nem do presente. É como se tivesse acontecido um desligamento. Será que a morte é isso? Não sei. E diante deste mistério ficamos especulando para onde iremos. Se eu for para algum lugar, eu queria muito levar a minha memória”.

E a memória da cultura brasileira a guardará para sempre como uma das mais importantes artistas de sua História. Salve Fernanda, a Grande!

Nota-pé: “Vitória” está em cartaz em várias salas de cinema.

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Destaques da semana

 

Prime Vídeo

Lee – direção: Ellen Kuras – 2023

Esse drama, indicado ao Globo de Ouro, acompanha Lee Miller, ex- modelo que se tornou aclamada correspondente de guerra da revista Vogue durante a Segunda Guerra Mundial. O talento de Miller resultou em algumas das imagens de guerra mais icônicas do século XX, incluindo uma foto dela própria, posando desafiadoramente na banheira particular de Hitler. A protagonista é a sempre ótima Kate Kinslet, que concorreu ao Globo de Ouro deste ano pelo papel. Perdeu para Fernanda Torres em “Ainda estou aqui”.

 

 

Um trem para Lisboa – direção: Bille August – 2013

O longa do diretor dinamarquês não é novo, mas volta agora ao streaming e é uma opção interessante. Adaptado do livro de Pascal Mercier, pseudônimo do suíço Peter Bieri, esse drama  recebeu algumas críticas por ser considerado superficial, mas sempre devemos levar em conta a comparação injusta entre livro e filme.

Jeremy Irons (foto) é Raimund Gregorius , um professor suíço que salva uma mulher portuguesa quando ela se prepara para saltar de uma ponte de Berna, na Suiça. Ela desaparece e deixa um casaco com um livro de um autor português no bolso, onde Raimund descobre um bilhete de trem para Lisboa. O professor abandona sua vida metódica e usa o bilhete para viajar até Portugal. Além do ótimo Irons, o elenco tem Bruno Ganz e Charlotte Rampling.

 

 

Netflix

Adolescência – 04 episódios – 2025

Comecei a ver essa minissérie pela repercussão ‘boca a boca’ nas redes sociais. Terminei o segundo episódio muito impressionada com a filmagem em apenas uma tomada e com a atuação de Stephen Graham , um ator que talvez você não conheça pelo nome, mas é quase impossível nunca ter  visto um filme ou série com ele. Além de atuar, Graham é um dos responsáveis pelo roteiro. Ele acertou na aposta, pois “Adolescência” tornou-se sucesso e posso vaticinar que seu nome estará na lista de indicados ao prêmios da televisão na próxima temporada.

A história não é leve ao mostrar um garoto de 13 anos acusado de ass uma colega de escola, levando a família, a terapeuta e o investigador do caso a se perguntarem: o que realmente aconteceu? A história impactante se baseia não em um caso específico, mas na realidade que se lê frequentemente nas páginas dos jornais.

Graham interpreta o pai de Owen Cooper, ator de 15 anos que em seu primeiro papel  se revelou um verdadeiro fenômeno.

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Cinema Especial

A 4ª edição da Mostra AF de Cinema Francofonia  acontece até o dia 26 de março, em Florianópolis no Paradigma Cine Arte, sempre às 19h, trazendo uma seleção especial de filmes de diversos países de língua sa. São produções da França, Canadá, Bélgica, Suíça e Luxemburgo, abordando diferentes gêneros, como drama, animação, comédia e documentário.

Entre os títulos estão:  Little Girl Blue (Bélgica), Nina e o Segredo do Ouriço (Luxemburgo) Falcon Lake (Canadá) Tempo Suspenso (França) do diretor  Olivier Assayas e  Quando Chega o Outono, do conhecido diretor francês, François Ozon.

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END

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