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Afinal, o que aconteceu com Maria Schneider?

Bernardo Bertolucci dirige Maria Schneider e Marlon Brando em "O último tango em Paris" (Foto: Reprodução)

Falei rapidamente sobre o filme “Meu Nome é Maria” na edição ada, mas vale voltar ao assunto que gerou muita curiosidade por não ser tão conhecido. Trata-se de um episódio de abuso perpetrado durante as filmagens de uma das produções mais famosas dos anos 70, nada menos que “ O último tango em Paris”.

A  atriz sa Maria Schneider tinha apenas 19 anos quando foi convidada para ser a parceira do mais icônico ator da história do cinema, Marlon Brando, sob direção de outro monstro sagrado  , o italiano Bernardo Bertolucci. O thriller erótico conta a história do encontro de um homem, cuja mulher acabara de suicidar-se, e uma bela jovem. Entre os dois nasce uma intensa atração sexual e seus encontros são sempre anônimos. A produção entrou para a história dos filmes cults, de mais uma grande atuação de Brando e assim se manteve até décadas depois.

Em 2007, quando já tinha 50 anos, Maria Schneider contou  em uma entrevista que a famosa cena da manteiga usada como lubrificante anal não estava no roteiro original. Ela foi criada pelo ator um pouco antes da gravação e apoiada por Bertolucci.

A atriz disse que ficou com muita raiva – Me senti humilhada e, para ser sincera, me senti um pouco estuprada, tanto por Marlon quanto por Bertolucci. Depois da cena, Marlon não me consolou nem pediu desculpas. Ele  me disse: ‘Maria, não se preocupe, é apenas um filme’, mas durante a cena, mesmo sabendo que o que Marlon estava fazendo não era real, eu chorava com lágrimas de verdade.

Bertolucci demorou a falar sobre o motivo de ter ocultado detalhes da cena para Schneider, mas tentou justificar-se: “Eu queria que ela reagisse como uma garota, não como uma atriz. Queria que ela reagisse humilhada”. E insistiu que foi apenas o uso da manteiga que havia surpreendido a atriz.

Para Maria Schneider, o efeito de tudo isso foi devastador. Ela achou cada vez mais difícil lidar com a fama que alcançou da noite para o dia e nunca conseguiu se livrar da imagem de mulher permissiva. Ela queria ser respeitada como atriz, mas era sempre vista como símbolo sexual e a cena da manteiga era uma sombra sobre sua carreira e sua vida. Maria teve episódios de abuso de drogas e chegou a tentar o suicídio.

“Meu nome é Maria” dá voz à atriz sa quatorze anos após a sua morte. Ela morreu em 2011, aos 59 anos. O filme mostra as origens de Maria, sua trajetória como atriz e, claro, a infame cena, mas agora sob a perspectiva da vítima. A cineasta Jessica Palud teve muito cuidado ao dirigir a sequência entre a jovem Anamaria Vartolomei  e o veterano Matt Dillon, que interpreta Marlon Brando. Dessa vez, reinou o respeito no set de filmagens. Sinal dos tempos, ainda bem.

“Meu nome é Maria” está em cartaz no Cine Paradigma, em Florianópolis. Veja o trailer.

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Destaques da semana em streaming 

 

Conclave – direção: Edward Berger – 2024 – Prime Video

O vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado [ em minha opinião, merecia mais que isso…] já estava para alugar no Prime, mas agora ficou disponível para s. “Conclave”  acompanha um dos eventos mais secretos e antigos do mundo: a escolha de um novo Papa. Após a morte inesperada do atual pontífice, o Cardeal Lawrence é encarregado de conduzir esse processo confidencial. A partir daí, muitos segredos vem à tona. Ralph Fiennes é o intérprete do Cardeal Lawrence e foi candidato a Melhor Ator no Oscar, perdendo para Adam Brody de “O Brutalista”. Prestigiado pelos conterrâneos, Fiennes levou o Bafta de Melhor Ator. O elenco traz ainda os ótimos Stanley Tucci, como o candidato progressista ao cargo, John Lithgow como o cardeal capaz de tudo para virar papa e o italiano Sergio Castellito, o candidato conservador ao papado. Isabella Rosselini, a rígida freira responsável pela alimentação do grupo, concorreu ao Oscar de Melhor Coadjuvante. O filme desagradou membros da Igreja por mostrar conflitos internos e pelo desfecho que vou omitir para não dar spoiler,claro.

 

 

Um completo desconhecido – direção: James Mangold – 2024 – Disney Plus

Outro ator candidato ao Oscar é o intérprete de Bob Dylan nessa cinebiografia, Thimotée Chalamet. O longa foi indicado a mais sete estatuetas, incluindo Melhor Filme. A história acompanha Dylan desde seu início, tocando em bares, até o encontro com o cantor Woody Guthrie que mudaria completamente sua carreira. Apesar de sua fama de mal humorado, o compositor acompanhou as filmagens dando informações sobre sua trajetória. Chalamet levou o prêmio Sag , do Sindicato dos Atores, pelo papel. ( Na foto, o Bob Dylan real e Chalamet no papel)

 

 

O Ensaio — Temporada 2 – Max

Um dos realities (?) mais curiosos da TV volta com uma segunda temporada no domingo (20). Creio que todo mundo tem o hábito de imaginar como será um futuro acontecimento que exija algum estresse antes que ele ocorra. Uma reunião para pedir aumento ao chefe, o momento do rompimento de uma relação etc… A gente busca coragem se preparando sobre o que dizer e como agir, certo?

Pois em “O Ensaio”, Nathan Fielder leva isso às últimas consequências: ele tenta eliminar as incertezas da vida real ajudando pessoas a se prepararem para situações decisivas, reproduzindo cenários nos mínimos detalhes, atores contratados e recursos quase ilimitados, ele cria ensaios complexos que simulam, com precisão, momentos importantes da vida de pessoas comuns.

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Curtas
  • Os fãs de Harry Potter acabam de saber quem serão os intérpretes por trás de seus personagens adultos favoritos na saga: os professores da escola de Hogwarts, John Lithgow (Conclave) como Alvo Dumbledore, Janet McTeer (A Rainha Branca) como Minerva McGonagall, Paapa Essiedu (Gangs of London) como Severo Snape e Nick Frost (Todo Mundo Quase Morto) como Rúbeo Hagrid.

 

  • Depois de ter elogiado muito o trabalho de Wagner Moura em “Guerra Civil”, o diretor britânico Alex Garland rasgou elogios ao também brasileiro Henrique Zaga em “Tempo de Guerra”. O filme foca numa missão  do pelotão de SEALs da Marinha Americana, que deu errado em um território de rebeldes. A história é contada em tempo real e segundo as recordações dos que vivenciaram o drama. A trama é inspirada nas experiências reais de Ray Mendoza, que foi fuzileiro do exército americano durante a Guerra do Iraque. Garland destacou o empenho e o comprometimento dos dois brasileiros durante as filmagens.

 

 

  • Agende-se! Está chegando o Festival de Cinema Europeu Imovision [ em Florianópolis, no Paradigma Cine Arte], a partir de 24/04. Um dos destaques da programação é “Dreams”, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2025, do diretor norueguês Dag Johan Haugerud.

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END 

 

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