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Ainda estou aqui… ainda estou aqui… ainda estou aqui

Selton Mello, Fernanda Torres, Guilherme Silveira, em "Ainda estou aqui" (Foto: Divulgação)

Sei que já tem saído muita coisa a respeito, mas não posso deixar de abrir a coluna desta semana sem falar sobre o filme que vem arrastando multidões às salas de cinema no país. Só se fala nele. E, pasmem, é uma película brasileira! Pode parecer que estou ironizando, mas é apenas a constatação de quão raro é uma produção nacional – que não seja comédia com atores globais – ser tão bem acolhida pelo público nativo.

“Ainda estou aqui”, de Walter Salles, é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, em que ele relembra a tragédia vivida pela família nos anos 70 , quando ainda era um menino. Seu pai, Rubens Paiva, era um deputado cassado pela ditadura militar e engenheiro de profissão. Eles moravam numa casa em frente ao mar, recebiam sempre os amigos, tinham uma vida simples e alegre. Um dia, seis agentes invadem a casa dos Paiva e  levam Rubens para um interrogatório. Nunca mais, Marcelo, a mãe e as quatro irmãs voltariam a vê-lo.

Se, no livro, o olhar condutor é do filho, no filme é o de Eunice Paiva, mulher de Rubens que se vê, de um dia para o outro, tendo que cuidar dos cinco filhos, enquanto tenta descobrir o paradeiro do marido durante décadas.  Vencedor de Melhor Roteiro na 81ª edição do Festival de Veneza, o filme de Salles vem fazendo sucesso em festivais pelo mundo. Isso não era garantia de ser bem sucedido no seu país natal, inclusive porque vivemos tempos de boicote àquilo que é tido como ‘ ideologicamente contrário ao meu ponto de vista’. Mas, já na primeira semana, “Ainda estou aqui” foi recorde de bilheteria, superando  as produções americanas tradicionalmente campeãs de faturamento. E acaba de atingir 90% de aprovação no poderoso site Rotten Tomatoes.

O melhor de tudo é que o filme não decepcionou a grande maioria dos brasileiros. É sempre arriscado criar-se  grande expectativa, mas dessa vez, 99% de comentários que li foram positivos. As pessoas relatam o impacto, o choro coletivo, o silêncio na sala de cinema quando o filme termina. E, é importante dizer que Walter Salles não apela para artifícios baratos para provocar emoção. Um dos pontos altos é a interpretação contida de Fernanda Torres. Sua dor é mais transmitida pelo olhar que pelas palavras. Não há um clímax daqueles de filmes americanos, quando há um monólogo piegas, com violinos tocando ao fundo. Talvez isso seja a causa de ter-se a sensação de haver uma garra na nossa garganta ao acompanhar o drama daquela mulher que precisa reagir para ocupar o vazio deixado pelo seu companheiro e pai de cinco crianças.

Quando chegou ao final, veio a Fernanda Mãe e, sem dizer uma única palavra na cena, desatou o nó que eu tinha na garganta. Ainda bem que eu tinha uma caixinha de lenços na bolsa. Preciso dar o mérito também ao Selton Mello que, em dez minutos, já tinha feito eu me afeiçoar a Rubens Paiva. E estou em boa companhia: o ator Sean Penn, ídolo de Selton, disse algo parecido ao brasileiro.

Mais uma coisinha: para os que não gostam de temas considerados políticos ou preferem não saber/rememorar o que se ou no Brasil durante os anos chumbo: o filme pode ser visto pela ótica de ficarmos sem alguém que amamos, do vazio que ele deixa, da ferida que nunca cura. Em última análise é sobre perda.

Há grande expectativa para que “Ainda estou aqui” represente o Brasil no Oscar e que Fernanda Torres seja indicada à estatueta dourada.Ela já ganhou Melhor Atriz de Filme Internacional na seção Latino Cinema & Television do Critics Choice Awards. Seria bom receber um Oscar porque isso catapultaria o longa de Salles a outro patamar no mercado cinematográfico. Vale alertar que uma empreitada difícil porque a premiação vai além da qualidade de uma obra, depende de muito marketing também. Mas, o mais importante ele já conseguiu: a iração do público brasileiro que ainda está aprendendo a amar o seu próprio cinema.

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Novidades nas plataformas

 

Filmes

 

Max

Pequenas cartas obscenas – direção: Thea Sharrock – Reino Unido-2024

Baseado numa história real daquelas em que a vida supera a ficção, esse filme britânico tem um de seus trunfos nas duas atrizes principais: Olivia Colman (Edith) e Jessie Buckley (Rose). Elas vivem em uma pequena cidade litorânea que tem sua tranquilidade afetada quando os moradores começam a receber cartas anônimas perversas e maliciosas. A primeira suspeita é Rose, uma jovem desbocada, que pode até perder a guarda da filha por causa do escândalo. Mas as investigações mostram que a história pode ser outra.

 

MUBI (Prime)

A professora do jardim de infância – direção: Sara Colangelo – 2018

Esse remake de um original israelense não é novo, foi produzido pela Netflix, mas inexplicavelmente foi parar em outras plataformas. Ele voltou agora no MUBI. É um dos filmes mais perturbadores e inquietantes que vi nos últimos anos. Maggie Gyllenhaal, mostrando porque é uma de minhas atrizes favoritas, interpreta a professora Lisa Spinelli, cansada da vida familiar e das  aulas sempre iguais. De repente, ela encontra motivação ao descobrir um aluno prodígio que recita belos poemas com uma naturalidade surpreendente. Lisa decide apostar suas fichas nesse talento improvável, explorando sua criatividade e animando sua própria vida. O problema é quando o interesse no garoto vira obsessão. Essa é uma obra ao qual é impossível ficar indiferente e que nos deixa pensando muito depois de vê-la.

 

Séries

Netflix

Os quatro da Candelária –  04 episódios – Brasil – 2024

Reunindo ficção e realidade, essa minissérie imagina como teriam sido as 36 horas que antecederam a chacina da Candelária para quatro dos jovens assassinados. Na madrugada de 23 de julho de 1993, policiais militares atiraram contra cerca de quarenta pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, que dormiam na escadaria da Igreja da Candelária, no centro do Rio. Seis mortos tinham entre 11 e 17 anos. Na série, o quarteto – inspirado em personagens reais – busca apoio uns nos outros contam sobre  seus sonhos para o futuro. Não viveram para realizá-los. No elenco estão Bruno Gagliasso, Antonio Pitanga e Stepan Nercessian.

 

 

Opinião

O final de três séries interessantes

Coincidiu de três séries importantes terem seu episódio final nessa semana. Às vezes,  mesmo sendo boa, uma série pode frustrar as expectativas do público no desfecho. Não foi o que aconteceu.

 

Pinguim (Max) – 1ª temporada –  8 episódios

Comecei os primeiros episódios sem muito entusiasmo, já um pouco cansada da moda dos vilões assumirem o protagonismo do herói, nesse caso do Batman. Mas, é uma dessas séries que vai ficando melhor à medida que a história vai avançando. A maquiagem fantástica, a voz que ele impôs ao personagem, o olhar expressivo, faz a gente esquecer que atrás daquele homem terrrível, está Collin Farrell. Belo trabalho de ator. A produção, ambientação, a Gotham sombria, tudo funciona muito bem.

 

Cuidado, spoiler!

Os roteiristas foram muito astuciosos ao colocarem Victor, o garoto pobre e sozinho, como pupilo de Oswaldo/Oz/Pinguim. A camaradagem que se estabelece entre eles, dá um toque de humanidade a um homem capaz de matar a sangue frio e de trair seus parceiros. O ator Rhenzi Feliz deve ter sido escolhido a dedo para o papel, pois traz um olhar carente e ingênuo. Oz a a ser seu mentor nos crimes, Victor se afeiçoa a ele, mas…o público é jogado de volta à realidade quando Oz mata o garoto ‘ porque essa coisa de afeto e família já não deram certo para mim antes”. Sem falar no destino da mãe, com quem o Pinguim mantém um profundo Complexo de Édipo.

Colin Farrell já disse que não quer fazer uma segunda temporada porque esse personagem tão monstruoso exigiu demais dele. Dá pra entender, mas sempre é possível mudar de ideia, dependendo do cachê. A ver.

 

Only murders in the building (Disney+) – 4ª temporada –  10 episódios

Essa série adorável encerra sua quarta temporada sem perder a mão. Misto de comédia com investigação, manteve a qualidade e continua atraindo nomes importantes para seu elenco, como a venerável Meryl Streep.  Se foi um privilégio para a produção, foi também para a própria Meryl que agradeceu ao diretor ser convidada para fazer um papel romântico, aos 75 anos de idade. Na base, o elenco já é ótimo: Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez formam o trio impagável , moradores do condomínio Arcônia, onde sempre tem algum assassinato acontecendo. Eles investigam o crime, enquanto contam tudo num podcast.

Um dos criadores de ‘Only murders” é o próprio Steve Martin e o texto é delicioso, divertido, sem apelar para piadas grosseiras. Já ao outro Martin, o Short, coube as cenas mais engraçadas da série. Selena Gomez é muito carismática e serve para atrair o público jovem. Nesse final, o trio está cercado de nomes famosos , como Eva Longoria e Zach Galifianiakis, conhecido por ‘Se beber, não case’.

Boa notícia para os fãs de ‘Only murders in the building” : a Disney já autorizou a 5ª temporada.

 

Minha amiga genial – 4ª temporada – 10 episódios

Já a série italiana não terá continuidade. A quarta temporada encerra a adaptação dos livros homônimos de Elena Ferrante, a antes misteriosa escritora, cuja identidade foi revelada há pouco por um jornalista investigativo.

A trama acompanha a trajetória de  Elena e Lila, amigas desde a infância até a maturidade. Vivendo num bairro pobre de Nápoles, cada uma seguiu caminhos diferentes, mas nunca se afastaram definitivamente. O pano de fundo é a mudança da cidade e do bairro com a entrada das drogas e de velhos conhecidos que se tornam traficantes. Elena muda para cidades maiores e se torna uma escritora respeitada, enquanto, depois de muitas dificuldades, Lila vira uma empresária bem sucedida.

 

Cuidado, spoiler!

Nos últimos episódios da temporada derradeira acontecem várias coisas trágicas, como o desaparecimento da filha de Lila, algo que a joga num estado de isolamento e loucura. Os  irmãos Solara, chefões do bairro, são assassinados. Nino, o grande e tortuoso amor de Elena, é preso depois de eleger-se deputado. Elena sai de Nápoles e nunca mais vê Lila. Um dia, ela recebe um pacote enviado pela amiga, que dá um desfecho criativo e inesperado para a história dessa longa amizade.

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

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