Em entrevista ao Estadão, Suely Araújo, ex-presidente do Ibama e coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, lançou um alerta sobre as consequências do crescimento desordenado nas áreas costeiras do Brasil, com foco em Santa Catarina. Araújo destacou a necessidade urgente de revisar as políticas públicas e o plano diretor para as cidades litorâneas, que enfrentam desafios crescentes devido às mudanças climáticas e à especulação imobiliária.
O alargamento da Praia Central de Balneário Camboriú, que ampliou a faixa de areia de 25 para 70 metros, é um exemplo claro de como as intervenções urbanísticas, embora bem-intencionadas, podem gerar efeitos colaterais. O projeto, que visava proteger a orla contra o avanço das marés e aumentar o espaço para os banhistas, trouxe à tona discussões sobre seus impactos a longo prazo. Especialistas como Kleber Trabaquini, pesquisador da Epagri/Ciram, alertam que as construções de arranha-céus ao longo da orla continuam a projetar sombras na praia, mesmo após o alargamento.
Além de Balneário Camboriú, outras cidades catarinenses como Florianópolis também adotaram projetos de alargamento de praia, buscando ampliar o espaço disponível para os banhistas e melhorar a infraestrutura turística. Em Canasvieiras e Ingleses, as intervenções tiveram resultados semelhantes, com o aumento da faixa de areia e a valorização das áreas ao redor. Contudo, surgem preocupações quanto aos impactos ambientais, como a alteração nas correntes marinhas e a intensificação das ondas, o que aumenta os riscos para os banhistas.
Estudos baseados em imagens de satélite do WorldView-3, analisadas por Trabaquini, mostram que o alargamento da Praia Central de Balneário Camboriú proporcionou duas horas a mais de sol em média na faixa de areia. No entanto, em alguns pontos, as sombras dos edifícios continuam a cobrir a praia em horários de pico, como às 15h, dependendo da estação do ano. O pesquisador ressalta que, com a contínua construção de arranha-céus, nem o alargamento será suficiente para evitar o sombreamento completo da praia.
Impactos à Segurança e à Economia Local
Carlos Eduardo Salles de Araujo, oceanógrafo da Epagri/Ciram, destacou que o alargamento da praia também alterou a dinâmica das correntes litorâneas, o que exigirá mais atenção das equipes de salva-vidas. O aumento do número de banhistas, aliado à nova configuração da praia e à intensificação das ondas, torna necessário um monitoramento mais rigoroso, especialmente em períodos de alta temporada, como finais de semana e feriados.
Os custos elevados dessas obras e seus impactos ambientais continuam a gerar debate entre especialistas e gestores públicos. A prática de alargar praias, embora ofereça benefícios imediatos, levanta questionamentos sobre sua sustentabilidade a longo prazo. Entre os desafios estão a origem da areia utilizada, a alteração dos ecossistemas marinhos e a mudança no perfil das praias.
Enquanto as cidades costeiras de Santa Catarina continuam a investir em alargamentos de praia, especialistas alertam para os riscos de um planejamento que não leva em conta as mudanças climáticas e a preservação ambiental. O aumento do nível do mar e a intensificação de eventos climáticos extremos são uma realidade que exige ação imediata.
A situação em Balneário Camboriú serve como um exemplo de como o crescimento desordenado e a especulação imobiliária podem colocar em risco não apenas o ambiente natural, mas também a infraestrutura e a segurança dos cidadãos. Com os alertas vindos de cientistas e especialistas, é urgente que os gestores públicos reavaliem suas políticas de urbanização nas áreas costeiras e implementem soluções que possam equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
